#DICADEMESTRE001

¹ Narrativa - narrativa no texto da imagem se refere às ações tomadas pelos personagens e a forma como os jogadores e personagens interagem com o mundo, e como o mundo interage com os jogadores e personagens. Então, por exemplo, um momento da narrativa se refere às escolhas feitas pelos personagens, como ir na taverna conversar com os frequentadores, ou ir até a masmorra mais próxima e investigar os arredores antes de entrar. Esse elementos são ditados pelos jogadores, pois são eles que possuem controle dos cursos de ação da partida. De forma resumida: a narrativa segue os cursos de ação.

Adentrando na discussão em si, um grande problema que mestres de RPG iniciante se deparam, e você vê eles constantemente reclamando por aí pelas internet é quando os jogadores não seguem os cursos de ação e narrativa criados por eles. A famosa história: o mestre passa seis horas escrevendo uma aventura e os jogadores ignoram totalmente a aventura pra tomar cerveja com Boblin, o goblin, na taverna de uma vila qualquer.

Acho que nesse ponto você já deve estar entendendo aonde eu quero chegar: esse problema só ocorre pois o narrador/mestre está tentando controlar o curso de ação do jogo, a narrativa. E isso é, obviamente, absurdo. Você não pode ditar as ações dos jogadores, caso contrário, deixa de ser um jogo de RPG, e se torna um videogame, um livro-jogo, ou coisa pior. Se você tem a intenção de mestrar um RPG com uma história estática que deve acontecer de uma forma específica, caso contrário você não ficará satisfeito: desista de mestrar RPG e vá escrever um livro; pois esta é precisamente a definição do que você quer fazer.

Você como narrador/mestre têm o controle sobre todos os outros elementos do mundo: você controla os demais personagens (npcs), você controla os eventos, os acontecimentos, as notícias, a percepção do mundo em relação aos jogadores, e a forma como o mundo se apresenta e aparece para os próprios jogadores, assim como para seus personagens. Tentar tomar controle das ações dos jogadores é literalmente a única coisa que você não precisa e não deve fazer como um mestre. Pois é aí que se dá o jogo, aí é que se dá o verdadeiro roleplay.

Então como eu escrevo uma aventura que não vai tentar roubar o poder de decisão dos meus jogadores?
A resposta pra isso é simples, porém traiçoeira: você não escreve a aventura, você escreve os motivos da aventura, as consequências da aventura, as causas da aventura, e seus efeitos no mundo ao redor dos personagens. Se você precisa que seus jogadores adentrem um castelo e salvem uma princesa, você não pode mandar um "vocês decidem ir salvar a princesa, agora vocês todos estão montados em cavalos indo salvar a princesa", você deve criar uma situação e ambiente favorável para que os jogadores embarquem na aventura sozinhos. Ou seja:

- Você precisa dar motivos para eles seguirem na aventura
- Você precisa garantir que a aventurar seja relevante para os personagens deles (considere seus alinhamentos, vínculos e motivações)
- Você precisa deixar bem claro quais são as consequências e as recompensas da aventura

Em um cenário onde os jogadores consigam ver isso acontecendo e refletindo no mundo ao redor deles, eles vão automaticamente querer descobrir o que aconteceu e tomar parte nos eventos. Afinal, joga-se RPG para interagir com o mundo e criar lendas sobre si mesmo.

No entanto, vale ressaltar que é sempre válido ter mais algumas opções de aventuras alternativas semipreparadas para lidar caso os jogadores ainda assim decidam ignorar os ganchos da aventura principal que você preparou. Mas, nunca se esqueça de aplicar as consequências da aventura que você escreveu ao seu mundo. Os jogadores ignoraram a princesa e foram desbravar as ruínas de uma fortaleza perdida? Agora o rei daquele reino/cidade foi forçado à ceder às ameaças de uma seita maligna e a população está sendo escravizada e usada em rituais para reencarnar uma entidade antiga, ou para um ritual necromântico!

No próximo episódio episódio falaremos sobre aventuras, talvez role até um vídeo curto sobre isso!